Afinal, o que é Educação Museal?

Publicado em
12
de
August
de
2024
Aqui no MEA - Memorial da Evolução Agrícola, a área educacional é um dos pilares da nossa atuação. Diversos programas estão ligados a ela, como o Prosas com a Escola e o Mãos e Fios, além de muito do cotidiano da nossa equipe. E nada disso é à toa. Todas as nossas ações estão embasadas em legislações e políticas amplamente difundidas na área da cultura e da museologia, como a Educação Museal, tema do nosso artigo de hoje. 

Basicamente, podemos dizer que a Educação Museal é uma área de conhecimento cujo foco é a formação dos sujeitos em interação com os bens musealizados, com os profissionais dos museus e a experiência da visita. Esse campo envolve uma série de aspectos, como a aprendizagem; a experimentação; o reconhecimento e o acolhimento dos diferentes sentidos produzidos pelos variados públicos visitantes e das maneiras de ser e estar no museu; o estímulo à apropriação da cultura produzida historicamente, ao sentimento de pertencimento e ao senso de preservação e criação da memória individual e coletiva. 

Vale pontuar que a Educação Museal, como processo e ação profissional específica, difere-se de ações de comunicação e de mediação cultural, por seus objetivos, metodologias e conteúdos próprios, porém sem deixar de ser necessário que seja integrada a essas práticas.

Museus e educação

A união entre museus e educação não é algo recente. As ações educativas pensadas e implementadas no espaço museal emergiram como atividade institucionalizada no Brasil em 1927, com o surgimento do então Serviço de Assistência ao Ensino do Museu Nacional. A partir dos anos 1950, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), promoveu o desenvolvimento de comitês nacionais em diversos países, por meio do ICOM (do inglês International Council of Museums).  

A Unesco promoveu três encontros considerados pelos profissionais de museus como marcos para o campo da Educação Museal: o primeiro em Nova Iorque, em 1952; o segundo em Atenas, em 1954; e o último no Rio de Janeiro, em 1958. O Seminário Internacional sobre o Papel dos Museus na Educação (1952) foi dedicado especialmente à área pedagógica e contou com a participação de representantes de 25 países, entre museólogos e educadores. 

Porém, o tema consolidou-se no Brasil e no mundo após a realização do Seminário Regional Latino-Americano da Unesco sobre o Papel Educativo dos Museus, que contou com participação de representação internacional, realizado em 1958, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.

Paulo Freire e sua relação com a Educação Museal

Já na década de 1970, destaca-se a Mesa-Redonda de Santiago do Chile sobre o papel dos museus na América Latina, realizada em 1972, e considerada como um marco para o desenvolvimento de políticas públicas e um paradigma para as atividades museológicas, delineando uma nova prática social dos museus. 

Com método e ideias filosóficas atribuídas ao educador Paulo Freire, a Mesa de Santiago delineou um papel decisivo para Educação Museal. Coube a Freire papel de destaque na configuração do movimento da Nova Museologia, quando transferiu ao campo museal suas teorias sobre educação como prática de liberdade e conscientização, o que se concretizou na visão de que o museu pode ser também uma ferramenta de construção de identidade e de cidadania.

A Museologia Social também é inspirada na educação popular de Paulo Freire. Hoje, no Brasil, o Programa Pontos de Memória reúne um conjunto de ações e iniciativas de reconhecimento e valorização da memória social, de modo que os processos museais protagonizados e desenvolvidos por povos, comunidades, grupos e movimentos sociais, em seus diversos formatos e tipologias, sejam reconhecidos e valorizados como parte integrante e indispensável da memória social brasileira. 

A realidade brasileira 

A Política Nacional de Educação Museal (PNEM) é fruto de muitos debates e participação dos agentes da área, em um processo iniciado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em 2010. A PNEM tem, entre seus objetivos, direcionar a realização das práticas educacionais em instituições museológicas, subsidiando a atuação dos educadores. Hoje, a Educação Museal, como função institucional, está em pé de igualdade com as já consagradas funções de preservação, comunicação e pesquisa. 

Histórico 

Na década de 1980 foi implementada a primeira política pública específica de museus no Brasil. O Programa Nacional de Museus decorreu entre 1980 e 1985 e contou com duas ações específicas no campo da educação. 

Uma foi o Projeto Interação, uma ação que fomentou a relação continuada entre museus e o ensino formal, com atividades colaborativas e integradas. A outra ação foi o lançamento das apostilas Museu e Educação, em dois volumes, pelo Ministério da Educação, voltadas para o desenvolvimento de projetos educativos nos museus e a instrumentalização de seus profissionais.

Em 2003, com a ampla mobilização e participação em torno da PNM, o campo da educação articulou-se e foi formada a Rede de Educadores em Museus (REM), visando se configurar enquanto fórum de discussão voltado à temática da Educação Museal. 

Em 2010 foi realizado o primeiro Encontro dos Educadores de Museus do Ibram, que contou com a participação ativa das REMs. Nesse encontro, foi produzido um dos documentos de referência da PNEM: a Carta de Petrópolis. 

Dois anos após esse evento, houve um processo de consulta e construção participativa visando à constituição do Programa Nacional de Educação Museal. Depois de uma série de exames regionais que desenvolveram o documento preliminar que regeria o Programa Nacional de Educação em Museus, em 2017 o documento foi organizado a partir de três eixos: Gestão; Profissionais, Formação e Pesquisa e Museus e Sociedade. Como resultado do 2º Encontro Nacional do Programa Nacional de Educação Museal, realizado em Porto Alegre, foi aprovado o texto final da PNEM, que totalizou 19 diretrizes distribuídas ao longo dos seus três eixos.

Assim, podemos ver que a área da Educação Museal possui bases sólidas, construídas com ampla participação e debates. Quer conhecer a íntegra do Caderno da Política Nacional de Educação Museal? Confira o material completo aqui.

*Este texto foi feito com base no Caderno da Política Nacional de Educação Museal. 

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